sábado, 23 de maio de 2009

O padre é pop


Um padre que arrasta multidões

Ele está fazendo uma temporada de shows de quatro dias no Canecão com casa lotada, foi o campeão de vendas de discos no Brasil em 2008 e uma de suas músicas está na trilha sonora da novela global “Caras & Bocas”. Com esse cartão de visitas, qualquer um mais desatento pode pensar que se trata de um astro sertanejo, do pagode ou do axé. A pessoa em questão, no entanto, é o padre Fábio de Melo, que com carisma, boa voz, porte de galã e mensagens de esperança vêm arrebatando “fãs-fiéis” por onde passa.

Durante seus shows, que têm produção caprichada, padre Fábio de Melo não só interpreta seus grandes sucessos, como também conversa com a platéia entre uma música e outra transmitindo mensagens positivas sobre os mais diferenciados temas. A partir de histórias próprias ou de amigos, o sacerdote leva o público à reflexão com conselhos, transformando alguns momentos do show quase que em celebrações religiosas.

“O jeito que a gente escolhe ser hoje vai ser uma lembrança boa ou um remorso dolorido. É muito ruim pensar que poderia ter falado e não falou, abraçado e não abraçou”, disse na estreia da turnê no Canecão. “Toda vez que você puder acender uma luz onde prevalece a injustiça não perca a oportunidade. A Igreja precisa de gente que faça a diferença com a vida, com as escolhas”.
Sucesso

Mineiro do município de Formiga, cidade a 195 quilômetros de Belo Horizonte, e caçula de oito filhos, Fábio de Melo foi ordenado em 2001 na Congregação do Sagrado Coração de Jesus, a mesma do padre Zezinho, que abriu as portas do mercado fonográfico para os sacerdotes cantores no final da década de 60.

Aos 38 anos, graduado em Filosofia e Teologia e pós-graduado em Educação e em Teologia Sistemática, padre Fábio de Melo é compositor, autor de seis livros e está lançando seu 12º álbum, “Eu e o Tempo”, gravado em janeiro no Canecão.

“Eu agradeço muito a Deus a oportunidade de ter feito da música um instrumento do meu trabalho. Acho maravilhosa a possibilidade de evangelizar através dela. De falar das questões que eu acredito”, diz o sacerdote em um vídeo disponibilizado no seu site. “A música sempre me possibilita trazer um contexto de animação, de vida e de reflexão para a vida das pessoas”.

No ano passado, o cantor lançou seu 11º CD, “Vida”, o primeiro fora de uma gravadora católica com o objetivo de alcançar um público além dos limites da religião. Com composições próprias, de outros artistas católicos e de Fábio Jr. – “Vida”, faixa-título do disco – o padre despontou nas paradas de sucesso. O álbum terminou 2008 com disco de diamante e no topo dos mais vendidos, com mais de 620 mil cópias.

O grande sucesso deu origem ao CD e DVD ao vivo “Eu e o Tempo”, cuja turnê de lançamento está sendo iniciada no Rio de Janeiro e depois seguirá para São Paulo, onde fará três apresentações no Citibank Hall. Além dos compromissos como cantor, padre Fábio de Melo apresenta toda quinta-feira, às 22h30, o programa “Direção Espiritual” na rede de televisão católica Canção Nova, onde ganhou projeção, e tem suas obrigações de sacerdote na Diocese de Taubaté, no interior de São Paulo.

“Antes de qualquer coisa que eu faço, eu sou padre. Na música que eu canto, eu sou padre, na palavra que eu profiro, eu sou padre, e na poesia que eu escrevo, eu sou padre. Não posso fugir dessa dimensão existencial. Tudo o que eu faço está perpassado por isso”, avalia ele, que rejeita o posto de astro e ídolo. “Ao ser padre, eu consegui conciliar a literatura, a música e a arte e, sobretudo, essa possibilidade de interferir na vida das pessoas de forma positiva”.

A aposentada Maria Lúcia da Silveira, de 58 anos, foi ao show no Rio de Janeiro com quatro amigas. Ela conheceu o padre Fábio de Melo através de seu programa na TV Canção Nova e, desde então, passou a admirar seu trabalho. “Eu gosto dele por causa da espiritualidade que ele transmite. Não é porque ele é jovem e bonito. Ele passa realmente o que a gente precisa escutar”.

O porte de galã também foi citado pela dona de casa Dalva de Almeida, de 56 anos, que já tinha ido à gravação do CD e DVD ao vivo. Para ela, o público tem que levar em consideração o carisma e a humildade que o padre transmite e não somente a sua aparência. “Bonito ele é. Mas por acaso padre tem que ser feio?”, questiona.

Para a advogada Juliana Urano, de 28 anos, a inteligência e a sabedoria do sacerdote são algumas das principais razões para a tamanha popularidade que ele atinge com diversos públicos. “O sucesso é decorrência da verdade que ele traz consigo. Ele traz Jesus para a nossa realidade”, analisou ela, que foi ao show acompanhada dos pais e da tia.

Quero deixar registrado que em momento algum minha intenção é desrespeitar alguém, principalmente em relação a um padre, mas ao mesmo tempo, expor minha opinião. Sendo assim, sinceramente, não concordo dessa associação entre beleza e fé, tampouco a exposição da mídia de propaganda religiosa misturada com interesses financeiros.

Leandro Tavares

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