segunda-feira, 15 de junho de 2009

Eleiçoes no Irã




15/06/2009 - 13h20
Em protesto com mais de 100 mil pessoas, opositor pede nova eleição no Irã
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da Folha Online

Mais de 100 mil iranianos foram às ruas da capital Teerã nesta segunda-feira em um manifestação de apoio ao líder da oposição e candidato derrotado, Mir Hussein Mousavi, que pediu novas eleições após acusar o presidente reeleito, Mahmoud Ahmadinejad, de fraude eleitoral.

Mousavi participou da manifestação a bordo de um carro e cercado por seguranças. Ele se disse disposto a "participar novamente de uma eleição presidencial".

À frente da grande manifestação, estava ainda outro candidato reformista à Presidência do Irã, Mehdi Karubi. Ambos não apareciam em público desde o anúncio da vitória de Ahmadinejad e as acusações de fraude em uma eleição que levou 25 milhões --número recorde-- às urnas.

O anúncio da vitória de Ahmadinejad surpreendeu a oposição já que as pesquisas de intenção de voto apontavam uma disputa acirrada. Segundo o governo, o atual presidente obteve cerca de 63% dos votos --a acusação afirma que o resultado foi anunciado antes mesmo do fim da apuração.

Milhares de partidários de Mousavi se manifestaram pacificamente nesta segunda-feira no centro de Teerã, sob os olhares atentos das forças de segurança do governo de Ahmadinejad. A manifestação, promovida por Mousavi, desafia ordem do Ministério do Interior rejeitando protestos eleitorais.

Abedin Taherkernareh/Efe

Presidente Ahmadinejad comemora vitória sob críticas de fraude
Os manifestantes marcharam da praça Enqelab à praça Azadi, a alguns quilômetros de distância, gritando "morte ao ditador" e "os iranianos preferem a morte à humilhação", e expressando apoio a Mussavi.

Uma centena de policiais posicionados na praça Enqelab não intervieram, mas a rede de telefonia móvel foi cortada na zona do protesto.

Muitos manifestantes ostentavam camisetas ou faixas verdes, a cor de Mussavi, com a inscrição: "Onde está meu voto?".

"Esta não é a primeira vez que protesto", afirmou Mehdi, 40, expressando a esperança de que Mussavi "resista até o fim".

"Espero que a polícia e a milícia islâmica se comportem de maneira civilizada", disse Fahar, uma jovem estudante de 21 anos, depois dos violentos enfrentamentos do fim de semana passado entre manifestantes e forças de segurança.

A televisão estatal não mostrou uma única imagem da manifestação, e sequer a mencionou. As agências de notícias do país, tanto estatais como privadas, fizeram o mesmo.

Além disso, cerca de 200 parentes de manifestantes detidos após os tumultos de sábado passado (13) exigiram sua libertação diante do tribunal revolucionário de Teerã, antes de se dispersar pacificamente.

O presidente Ahmadinejad adiou para esta terça-feira uma viagem à Rússia prevista para hoje. Os ministros das Relações Exteriores da União Europeia pediram ao Irã que investigue a eleição e lamentaram "o uso da força contra manifestantes pacíficos".

Vários quilômetros de ruas do centro de Teerã foram tomadas por pessoas que participam da manifestação, de acordo com uma testemunha ouvida pela agência Reuters.

"Se Ahmadinejad continuar como presidente, nós vamos protestar todos os dias", disseram os manifestantes. "Nós lutamos, nós morremos, não vamos aceitar essa votação fraudulenta", era outro grito de ordem das pessoas.

Quando um helicóptero da polícia sobrevoou o local, os participantes vaiaram. Ahmadinejad e o Ministério do Interior negaram que tenha havido fraude na votação.

Investigação

As manifestações da oposição levaram o líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei a pedir uma investigação sobre as denúncias de fraude.

O porta-voz do Conselho dos Guardiães, Ali Kadjodai, confirmou nesta segunda-feira que, "a partir de amanhã", o órgão examinará as cartas em que dois dos candidatos à Presidência do Irã denunciam fraudes e falhas nas eleições de sexta-feira (12).

Segundo o Conselho, as cartas foram entregues ontem, e o processo de análise deve durar de "sete a dez dias".

"A lei permite aos candidatos um prazo de três dias para protestar. Portanto, os candidatos têm tempo até o fim do horário comercial de hoje para apresentar suas reclamações", disse Kadjodai, ouvido pela televisão local.

O porta-voz, no entanto, afirmou que o Conselho dos Guardiães só aceitará as queixas que estiverem bem documentadas e que possam ser processadas. "Por exemplo, um dos candidatos reclamou dos debates [na televisão], pelos quais não somos responsáveis. Porém, trataremos da questão das cédulas e da presença de representantes dos candidatos nos colégios eleitorais", acrescentou.

Apesar de ter pedido ao Conselho dos Guardiães que "examine minuciosamente" a carta com as denúncias de Mousavi, no sábado passado (13) o líder supremo deixou claro sua opinião. Em declarações públicas, Khamenei declarou seu apoio à vitória do atual presidente e pediu aos outros candidatos que aceitem o resultado.

O Irã agora aguarda a decisão das autoridades eleitorais sobre o resultado do pleito. Mas, desde a fundação da República Islâmica, há 30 anos, o poderoso Conselho dos Guardiães nunca tomou uma decisão de tal envergadura.

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